segunda-feira, 24 de junho de 2013

     Tic tac, tic tac...
     Trimm, trimm...
     O som do despertador entra violentamente no sono de Antonio, e lentamente abre os olhos observando as manchas que estão no teto do seu quarto. Não sabendo onde esta, parece que a cama estava invertida, e lentamente à realidade vai lhe chegando a sua memória.         Antonio despertou pensativo dos momentos em que não lembrava há anos, e em um momento uma voz misteriosa veio em sua mente então abriu a janela do quarto para verificar melhor  àquela voz de criança, e verificou  o tempo que estava todo acinzentado, assustado reuniu algumas coisas na mala de viagem e jogou no banco de trás do carro embarcando pensativo sobre o passado que o incomodava há anos.
    Nas alturas da viagem, ligou o som do carro e procurou se desligar de tudo que deixava para trás: contas, trabalho, estudo e ate mesmo pressões da sociedade, e de repente tudo era apenas uma vaga lembrança e nada estragaria seu bom humor. Aumentou a velocidade e estranhou o movimento na estrada porque, não havia nenhum carro, e só havia ele, e que naquela época era comum ver carros, caminhões e motocas para todos os lados disputando por uma vaga para atravessá-las. Ouvindo suas musicas antigas prediletas, abaixou o volume e procurou outra que o motivasse, porque já o estava triste e logo adiante as músicas já não soavam tão bem aos seus ouvidos, então procurou outra que lhe sinta o que  realmente importa para ficar acomodado e continuar a viagem. Depois de uns bons quilômetros, diminuiu a velocidade e se dirigiu ao um abrigo para fazer um breve lanche, porque naquela hora à fome era grande e sua barriga esta murcha como um maracujá velho, após a refeição, ligou o carro e contínuo a viaje, por que seu destino não tinha fim. Ao percorrer longa distancia e já estavam noite e frio com muita neblina e com ar condicionado ligado no quente, pois mesmo com o carro todo fechado, estava realmente muito frio, e enfim chegou ao local desejado.  
   Sentiu momento das saudades onde morou quase toda sua infância, o local estava transformado em uma cidade, não sendo mais a mesma de antes, e agora estava deserta que escutava o som do vento cantando desesperadamente na janela do carro. Parou em uma esquina para atravessar e avistou uma criança de 7 anos de olhos pretos, cabelos crespos e se trajava todo branco com sua roupa cheia de barros. Antonio resmungou, serei eu quando criança, não posso acreditar que o passado esta voltando e vou sentir meus momentos felizes. Antonio resolveu ajudá-lo dando algumas roupas que tinha na mala de viagem, claro que ficou um pouco grande, mas o importante que o ajudou. Então a criança olhou fixamente nos olhos e disse em tom solene: Muito obrigado por ter vindo me libertar e agradeceu o presente. Aquela frase ecoou na sua mente lembrando-se quando havia levantado de manha e escutado antes de ir viajar.
     Ao se aproximar melhor da cidade onde morou na infância relembrou dos lugares onde brincava, representava que ele estava ali ainda criança, em que se juntava em dias de chuva com os amigos para brincar de se atolar no barro e escorregar na enxurrada sem se preocupar em sujar as roupas brancas, se juntavam muitas vezes, para inventar jogos ou construir seus próprios brinquedos eram felizes, sem ter TV a cabo nem dvd, não existia computador em casa nem internet, mas com certeza tinha muitos amigos, não havia felicidade maior do que sentar aos domingos nos degrau da casa e jogar conversa fora, sem falar do velho pé de laranjeira que tínham um balanço feito com corda e um pedaço de madeira como assento que nos levavam às alturas e nos fazia viver de forma inocente, viagens imaginárias, agora esquecidas e não retomadas nos sonhos de adulto.
Antonio entrou em uma rua que parecia o lugar onde se encontrava a sua casa de antes, restos de angústia e restos de morbidez veio em sua mente, porque aquele lugar estava  abandonados pelos resquícios de alegria. As insistentes recordações soturnas parecem flutuar em cada palmo de seu chão pisado por saudades agora ali se respira supremo abandono e inusitada velhice evanescente e meros sinais de pobreza veem-se muros borrados aqui e ali, paredes descascadas. O anseio que teve daquele lugar onde já habituou era de desaparecer o mais rápido possível. Quisera que não houvesse tais desenganos do lugar, por que eles são forçadas a desaparecer ate seus próprios habitantes por causa da indiferença das autoridades responsáveis pela dignidade das cidades.  Com um sorriso apagado pelas tristezas constantes, então nas ruas nascem flores e o lugar se transforma como era.        Tudo que nessas ruas foram risos, agora despencou para lágrimas cansadas, olhares esmaecidos, rostos desfigurados pela dor. Os olhos de quem por lá mora agora estão alegres e não escondem mais tormentos e seus dias são de extrema alegria, da qual até a brisa se esconde espavorida deixando o sol em brasa.
    Não deixamos de sonhar de saborear a vida com a simplicidade da criança que fomos. Dizem que criança tem o coração puro, por isso são tão felizes; então onde se esconde essa pureza depois que nos tornamos adultos?
Então pensou, queria voltar à infância e sentir um pouquinho daquela força palpitante, da alegria que nos movia mesmo não tendo brinquedos eletrônicos caros, roupas novas ou casa luxuosa.
  Talvez o que nos fazia feliz era a liberdade de realmente poder exercer nossa infância inteiramente, sem sofrer pressões, cobranças ou influências da sociedade. Não éramos problemáticos porque nossos pais não nos davam o que queríamos, mas sim o que eles podiam nos dar, sem se sentirem culpados por isso!
Enfim, as lembranças vão ficando para trás, estamos envelhecendo, e quase que as lembranças também vão se desfazendo, a vida se torna tão corrida e no dia-a-dia nos esquecemos de que a grandeza de viver está na simplicidade dos pequenos gestos, de se sentir bem com nós mesmos cultivando a pureza da criança que um dia fomos. Devíamos ter em mente que apenas nos despedimos do tempo, nunca da vida, nem de realizar os sonhos que sonhamos com a mesma intensidade com que vivemos os momentos mágicos e sublimes de nossa infância.
    De repente Antonio despertou molhado de suo,r e não sentia as cobertas sobre seu corpo, apavorado apalpou a cama ao seu redor e estava de cabeça para baixo e esticou o braço para se arrumar e acertou com força a sua cabeça na cabeceira da cama gemendo com a dor da batida, e sua mão não alcançava o colchão e esquecera-se das cobertas que estavam sobre seu corpo, e suas pernas formigavam e isto lhe causou aflição, pensando estar soterrado ou preso por algo pesado impedindo-o de se movimentar. Olhou ao redor da escuridão buscando uma luz, um ruído algo que lhe trouxesse de volta a referência que perdera, esfregou os olhos e aos poucos voltou a sentir suas pernas e passou a mão pelo pescoço e limpou o suor. Apavorado empurrou o lençol e o cobertor para a ponta da cama e respirou-se aliviado e o sonho veio à memória e se esforçou para lembrar e as imagens voltaram na sua mente. Acordou como se tivesse nascido novamente, a perfeição do antigo sonho era incomparável a qualquer pesadelo que já tivera até então,  abriu os olhos e viu só o escuro no quarto abafado, queria dormir novamente e perder os sentidos completamente ou senti-los mais intensamente era inexplicável.Não queria estar no quarto por um medo comum, não era aquele medo que sentimos diante de um perigo, era o medo que sentimos por acordar todos dias.O medo de ter que se levantar e sentir qualquer tipo de dor, um medo especial e pior que o verdadeiro medo.
            Queria continuar dormindo, porque assim talvez,pudesse sonhar,e mais aprofundadamente,fazer parte do irreal que sentia todos os dias. Se revirou na cama a fim de dormir, mas um pouco.Inútil.O despertador fez  barulho e já era impossível dormir.Tinha que ir trabalhar.


sexta-feira, 21 de junho de 2013